sábado, 4 de abril de 2020

Máscaras como aliadas na proteção para todos

Opiniões ainda se dividem quando o assunto é o uso de máscaras durante a pandemia. No entanto, o grupo que defende a utilização generalizada fora do ambiente doméstico é cada vez maior e endossa discurso já propagado em países como China, República Tcheca e Estados Unidos. Na sexta-feira, o governo americano recomendou o uso através de seu Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).



As máscaras são, sim, mais uma estratégia de combate eficaz à disseminação do coronavírus. O principal argumento é que 80% das transmissões correm por pessoas assintomáticas. Na última semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a orientar que as pessoas confeccionem modelos caseiros e os usem sempre que saírem de casa. Uma equipe do ministério prepara um protocolo que vai indicar diretrizes para produção e uso.

Especialistas alertam que quem decidir por essa proteção precisa ficar atento aos cuidados com o material utilizado, às dimensões da máscara, ao manuseio e à higienização após uso.

A médica sanitarista, doutora em Saúde Pública e pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz, Paulette Cavalcanti, explica que as máscaras caseiras podem ser feitas de tecidos de algodão, como o tricoline ou mesmo malha de camiseta, e também com o TNT (tecido-não tecido) de gramatura 40. As dimensões podem ser, no mínimo, 18 cm x 18 cm. As tiras ou elásticos devem ficar bem ajustadas para que a máscara tenha pleno contato com o rosto, sem brechas. Quando retirada, deve ser dobrada com a face que ficou exposta ao ambiente voltada para dentro. As máscaras de algodão podem ser lavadas, devendo ser imediatamente colocadas na água com sabão. Se possível, secar ao sol. Passar a ferro também é eficiente. Durante o uso, não deve ser manuseada, mas retirada apenas pelas tiras ou elásticos.

Para a biomédica doutora Mariana Andrade, coordenadora e docente do curso de Biomedicina do UNIFBV Wyden, é indispensável ter conhecimento sobre o manejo das máscaras ou a sensação de proteção será falsa. “A máscara deve estar apropriadamente ajustada à face para garantir sua eficácia e reduzir o risco de transmissão. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a máscara só é eficiente se usada em combinação com a lavagem das mãos com água e sabão ou álcool 70%”. A professora explica ainda que o uso inadequado, por mais tempo que o recomendado, por exemplo, prejudica a eficácia da proteção.

Paulette diz que o conhecimento sobre uso das máscaras está baseado, principalmente, em estudos desenvolvidos a partir de epidemias anteriores, especialmente a de H1N1 e a do primeiro coronavírus. “Há estudos que compararam a eficácia das máscaras cirúrgicas versus as artesanais, e outros que comparam diversos materiais como algodão, TNT, malha de camisa etc. O tricoline é apontado como uma opção porque é uma mistura de algodão e tem a trama mais fechada. Digamos que, tendo as máscaras cirúrgicas uma proteção de 96% a 99%, as artesanais podem ter proteção de 60% a 90%, dependendo da sua fabricação”, explica a pesquisadora.

Nas outras situações epidêmicas, máscaras não foram tão necessárias. Hoje, no entanto, a situação se agrava e as propostas de controle são insuficientes, o que faz com que essas medidas sejam muito válidas, defende Paulette. “Se eu conseguir entre 60% e 80% de controle, nesta conjuntura, é muito bom. Em uma casa que temos várias pessoas dormindo no mesmo espaço, é uma forma de fazer esse controle, especialmente em comunidade mais pobres. O controle ideal, para mim, é o centrado na análise da realidade.”

As experimentações com máscaras envolvem vários grupos de especialistas no estado, mas os insumos, supreendentemente, são escassos. Fechos de arame, comumente usados para fechar embalagens de pães e bolachas, estavam sendo usados como presilha de ajuste da máscara ao nariz, mas acabou, não se encontra mais no mercado. “Estamos vendo, então, um modelo que prenda no nariz, que não deixe espaços para que o ar possa entrar livremente”.

Mãos Solidárias
O grupo integrado por Paulette, o Mãos Solidárias, começou a produzir máscaras na ocupação Normandia, em Caruaru, e hoje a produção foi ampliada para o Recife e Olinda. Por ora, as máscaras estão sendo distribuídas a instituições e em comunidades e deve começar a ser oferecida para venda solidária no Armazém do Campo, na Rua do Imperador, para que os recursos sejam revertidos em mais máscaras.

“O uso comunitário de máscaras deveria ser de 24 horas por dia para quem tem sintomas, porque está transmitindo. Existem as recomendações sobre como confeccionar as máscaras, mas nas comunidades, é ‘qualquer pano’. É a realidade”.

ENTENDA
Orientações para uso de máscaras
Lavar as mãos antes de colocar
Colocar a máscara manuseando apenas o elástico ou tiras de ajuste
Evitar tocar na máscara durante o uso; se precisar pegar, lavar as mãos
Para retirar, não pegar na frente da máscara, mas pelas tiras e elásticos
Dobrar a máscara usada com a face que ficou exposta ao ambiente para dentro
Se for para descarte, usar saco plástico fechado.
Se a máscara for de tecido, colocar em água e sabão (ou detergente).
Secar ao sol, se possível. Passar a ferro é recomendado.
Se for de tecido, o ideal é ter de 3 a 4 máscaras para alternar o uso.
O coronavírus dura até 4 dias em alguns ambientes 


Via: Diário de Pernambuo

Por: Simone Novaes

Simone Novaes

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