segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Aluna surda defende 1ª dissertação de mestrado traduzida em Libras na USP em Ribeirão

Natália Francisca Frazão recebeu título de mestre ao passar por banca com pesquisa sobre educação. Administradora faz planos para seguir carreira acadêmica e chegar ao doutorado.

Natália Francisca Frazão superou as dificuldades e chegou ao mestrado na USP Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)
Natália Francisca Frazão superou as dificuldades e chegou ao mestrado na USP Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)




A administradora de empresas Natália Francisca Frazão, de 32 anos, é a primeira aluna surda da USP em Ribeirão Preto (SP) a defender uma dissertação de mestrado traduzida em Libras, a linguagem brasileira de sinais. Na segunda-feira (4), ela recebeu o título de mestre em educação e comemorou o feito.
“Estou muito, muito feliz, porque não sou sozinha, feliz apenas por mim, e sim pela comunidade surda”, disse Natália, com ajuda da tradutora.
Natália é surda desde a infância, e conseguiu chegar à universidade para cursar administração de empresas. Mas, o sonho de se tornar uma pesquisadora a levou a batalhar pela pós-graduação e, apesar de muitas dificuldades, chegou ao mestrado.
Na USP, ela contou com o auxílio da professora Ana Claudia Balieiro Lodi, especialista em linguística e Libras e em processos educacionais bilíngues para surdos. A proposta do trabalho era estudar a história das ações coletivas dos surdos da Associação de Surdos de São Paulo (ASSP), entre os anos de 1950 a 2011.
Ana Claudia explica que a Libras é primeira língua dos surdos, mas que Natália compreende muito bem a língua portuguesa, o que possibilitou uma boa discussão a respeito do tema.
“O português escrito, para surdo, não é a primeira língua, então vem com marcas da Libras. Nessa hora eu sentava com ela, a gente fazia ajustes de língua, realmente, da língua portuguesa. Muitas vezes, conceitos que ela não sabia como expressar em português, ela me passava em Libras, eu escrevia em português, ela lia em português, pra ver se eu realmente tinha compreendido e se era aquilo que ela realmente queria dizer”, afirma a professora.
Um dos assuntos tratados por Natália na pesquisa diz respeito às conquistas sobre a inclusão de surdos, como a criação das Escolas Municipais de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) em São Paulo (SP), e que atendem de crianças a adultos com surdez na educação infantil e no Ensino Fundamental.
Durante a defesa da banca, duas intérpretes traduziram os comentários da banca examinadora para Natália e para a plateia, que contou com outras pessoas surdas. No momento em que a aluna fez suas considerações, as mãos expressaram toda a emoção e os caminhos percorridos até o momento em busca de mais acessibilidade para pessoas que, assim como ela, não podem ouvir. A explanação da aluna também contou com a ajuda das intérpretes.
Atenta na plateia estava Nilza Frazão, mãe de Natália. Orgulhosa do feito da filha, ela contou que a defesa do trabalho era um sonho da filha e revelou que a jovem planeja seguir na carreira acadêmica.
“É uma vida de muitas dúvidas, a gente nunca sabe até onde eles [filhos] vão chegar. A gente nunca sabe nem como direcionar. A gente vai tendo força, energia, vai conhecendo. Eu fui conhecendo e ela que foi me mostrando o caminho pra que eu pudesse ajudá-la. Hoje eu me sinto mais do que feliz, mais do que realizada. Ela quer se preparar para o doutorado.”
A orientadora Ana Claudia agradeceu a oportunidade de ter trabalho com a aluna e de poder ter acompanhado seu crescimento. "Foi uma experiência muito boa ver que ela venceu as dificuldades impostas até pela situação que viveu aqui na USP no início do curso."
Para Natália, a experiência proporcionou aprendizado, mas, acima de tudo, a certeza de que ela é capaz de desenvolver seus projetos e obter conquistas com eles.

“Eu vi que tenho capacidade sim, tenho condições de ser uma pesquisadora, o que eles me disseram vai me ajudar muito a melhorar a minha pesquisa, e eu realmente achei muito bom. Eu gostaria que o meu trabalho proporcionasse exatamente o conhecimento pra mostrar as lutas que tem a comunidade, a história, o que aconteceu nessa história.”
Fonte: G1


Por: Simone Novaes
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