Natália Francisca Frazão recebeu título de mestre
ao passar por banca com pesquisa sobre educação. Administradora faz planos para
seguir carreira acadêmica e chegar ao doutorado.
A administradora de empresas Natália Francisca Frazão,
de 32 anos, é a primeira aluna surda da USP em Ribeirão Preto (SP) a defender
uma dissertação de mestrado traduzida em Libras, a linguagem brasileira de
sinais. Na segunda-feira (4), ela recebeu o título de mestre em educação e
comemorou o feito.
“Estou muito, muito feliz, porque
não sou sozinha, feliz apenas por mim, e sim pela comunidade surda”, disse
Natália, com ajuda da tradutora.
Natália é surda desde a infância, e
conseguiu chegar à universidade para cursar administração de empresas. Mas, o
sonho de se tornar uma pesquisadora a levou a batalhar pela pós-graduação e,
apesar de muitas dificuldades, chegou ao mestrado.
Na USP, ela contou com o auxílio da professora Ana
Claudia Balieiro Lodi, especialista em linguística e Libras e em processos
educacionais bilíngues para surdos. A proposta do trabalho era estudar a
história das ações coletivas dos surdos da Associação de Surdos de São Paulo
(ASSP), entre os anos de 1950 a 2011.
Ana Claudia explica que a Libras é
primeira língua dos surdos, mas que Natália compreende muito bem a língua
portuguesa, o que possibilitou uma boa discussão a respeito do tema.
“O português escrito, para surdo,
não é a primeira língua, então vem com marcas da Libras. Nessa hora eu sentava
com ela, a gente fazia ajustes de língua, realmente, da língua portuguesa.
Muitas vezes, conceitos que ela não sabia como expressar em português, ela me
passava em Libras, eu escrevia em português, ela lia em português, pra ver se
eu realmente tinha compreendido e se era aquilo que ela realmente queria
dizer”, afirma a professora.
Um dos assuntos tratados por Natália na pesquisa diz
respeito às conquistas sobre a inclusão de surdos, como a criação das Escolas
Municipais de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) em São Paulo (SP), e que
atendem de crianças a adultos com surdez na educação infantil e no Ensino
Fundamental.
Durante a defesa da banca, duas
intérpretes traduziram os comentários da banca examinadora para Natália e para
a plateia, que contou com outras pessoas surdas. No momento em que a aluna fez
suas considerações, as mãos expressaram toda a emoção e os caminhos percorridos
até o momento em busca de mais acessibilidade para pessoas que, assim como ela,
não podem ouvir. A explanação da aluna também contou com a ajuda das
intérpretes.
Atenta na plateia estava Nilza
Frazão, mãe de Natália. Orgulhosa do feito da filha, ela contou que a defesa do
trabalho era um sonho da filha e revelou que a jovem planeja seguir na carreira
acadêmica.
“É uma vida de muitas dúvidas, a
gente nunca sabe até onde eles [filhos] vão chegar. A gente nunca sabe nem como
direcionar. A gente vai tendo força, energia, vai conhecendo. Eu fui conhecendo
e ela que foi me mostrando o caminho pra que eu pudesse ajudá-la. Hoje eu me
sinto mais do que feliz, mais do que realizada. Ela quer se preparar para o doutorado.”
A orientadora Ana Claudia agradeceu a oportunidade de
ter trabalho com a aluna e de poder ter acompanhado seu crescimento. "Foi
uma experiência muito boa ver que ela venceu as dificuldades impostas até pela
situação que viveu aqui na USP no início do curso."
Para Natália, a experiência
proporcionou aprendizado, mas, acima de tudo, a certeza de que ela é capaz de
desenvolver seus projetos e obter conquistas com eles.
“Eu vi que tenho capacidade sim,
tenho condições de ser uma pesquisadora, o que eles me disseram vai me ajudar
muito a melhorar a minha pesquisa, e eu realmente achei muito bom. Eu gostaria
que o meu trabalho proporcionasse exatamente o conhecimento pra mostrar as
lutas que tem a comunidade, a história, o que aconteceu nessa história.”
Fonte: G1
Por: Simone Novaes
Blog: Fique por Dentro