quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Nas eleições do WhatsApp, ganha a mentira



Um dado chama atenção em meio tantos textos e fotografias recebidas em grupos de WhatsApp, que têm favorecido a transmissão de mentiras no período mais importante da democracia: a eleição para a Presidência da República. Apenas 8% das imagens recebidas no ambiente visto como “terra de ninguém” são verdadeiras. O levantamento surgiu a partir de análise em 347 grupos, nos quais as imagens predominantes foram fotos montagens e mensagens falsas. Ou seja, qualquer um mais desavisado corre o risco de decidir o futuro da política econômica e social do país se estiver baseado apenas no que recebe em mensagens secretas pelo aplicativo. Mais de 90% são manipuladas por alguém que pode querer te enganar. Ou simplesmente ser uma pessoa desinformada.

Mais de 90% do que é transmitido via WhatsApp é manipulada. Confira as fontes, veja se quem te mandou é confiável e veja se a fonte da informação é confiável. A disputa presidencial é o momento mais importante do país. Arte de Laerte Silvino/DP


A pesquisa foi realizada pelos professores Pablo Ortellado (USP), Fabrício Benvenuto (UFMG) e pela agência de checagem de fatos Lupa. As notícias falsas comandam as eleições, bem aos olhos da Justiça Eleitoral. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, por telefone, o professor e pesquisador em comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, Nilson Lage, acredita que a única forma de permitir um resultado eleitoral mais justo no Brasil é que a Justiça eleitoral bloqueie o WhatsApp durante a reta final da campanha. No passado, o bloqueio do aplicativo foi determinado no Brasil pela Justiça de São Paulo por 48 horas. Nilson Lage é jornalista, mestre em comunicação, doutor em linguística e filosofia.

“A saída é suspender o WhatsApp durante a campanha, mas a Justiça acredita num estado repressivo e está atemorizada, acabou de absolver o Ustra de um episódio de tortura. A Justiça é um poder desarmado e muito frágil. Em todas as épocas, a Justiça sempre corrobora com qualquer estado imposto pela força. A Justiça alemã apoiou o nazismo, a francesa também apoiou o império de Napoleão”, declarou Nilson Lage. 

Segundo ele, a eleição dos Estados Unidos, o mais poderoso do planeta, foi moldada pelo fake news, a Justiça Eleitoral brasileira viu e não tomou as devidas providências. “O processo está sendo feito com amplo uso da tecnologia, ampliaram isso com robôs.Começou na Ucrânia, em todo esse processo que chamam de revoluções laranjas, depois veio para a América Latina. No Brasil, o volume de fake é impressionante. O antecedente disso foi do Donald Trump e as empresas são as mesmas e nada foi, efetivamente, planejado e posto em prática”. Ele lembrou que, em tese, como disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux, um resultado produzido por mentiras pode ser anulado, mas, “como vai conseguir provar isso”. Indagado se tinha uma fake news que considerava como a mais grave na campanha, ele respondeu: “a grande fake news é transferir a questão política para a questão de moral e de costumes. A luta política é uma luta de classes, de questão econômica, de sobrevivência das pessoas. Transferir isso para questões de natureza moral é um desvio sério”.

Nilson Lage, inclusive, é um dos críticos do papel da mídia nos últimos tempos, não apenas do WhatsApp. Nesse caso, ele faz a ressalva de que, outras regiões do país, como a Sudeste, onde se localizam São Paulo e Rio de Janeiro, geram uma onda de informações, com agências de notícias, capazes de levar outras regiões a perder seu próprio discurso de comunicação e cultural. “Cada região do país é diferente da outra, cada estado. Você sai da Bahia para Pernambuco e parece outro país, mas as regiões estão sendo comandas pelo discurso de São Paulo”, declarou.

Formado em ciências sociais pela USP, com mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade estadual de Campinas, o professor da Universidade Presbiteriana Maurício Fronzaglia  fez uma análise crítica da Justiça eleitoral por não estar preparada para os desafios eleitorais de 2018, mesmo depois de toda onda de radicalização das eleições de 2010 e 2014. Há quatro anos, lembrou ele, houve muitas informações falsas divulgadas. 

“Todo o sistema de Justiça, inclusive o Supremo Tribunal Federal, não se colocou à altura do desafio que estamos enfrentando, está mais preocupada com seus privilégios. Boa parte deles ali, estão, digamos, tentando conservar seus privilégios numa eventual reforma da Previdência e usando seus cargos, há falta de espírito republicano. A Justiça não é para ser partidária, política e ideológica. Era previsível que essa campanha seria violenta, inundada de fake news e a Justiça pouco se preparou: não previu uma regulamentação que pudesse ser preventiva e punitiva nos casos de WhatsApp”.



Via: Diário de Pernambuco


Por: Simone Novaes

Simone Novaes

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